segunda-feira, 6 de julho de 2009

Esta história é um conto que faz parte do espetáculo "O Colecionador de Crepúsculos"... Lindo


O Colecionador de Crepúsculos

"Aconteceu em um lugar... havia duas casas. Em uma delas, morava um pai e uma filha que se amavam muito.
Na casa ao lado, vivia uma vizinha, que vivia sozinha. Isso porque era bem fofoqueira. Fofoqueira, mas apaixonada pelo pai. Mas o pai...
Decidida que iria se casar com pai, ela teve uma grande idéia: conquistar a filha, pra depois, conquistar o pai.
E todo dia, quando a menina estava brincando na calçada, a vizinha ia até ela e lhe dava um presente. A menina ficava muito feliz. E aos pouquinhos, foi gostando mais e mais da vizinha, até o ponto de querer que ela fosse a sua mãe!!!
Pois um dia, a vizinha disse à menina:
- Minha queridinha! Se você quiser eu posso ser sua mãe. Mas para isso, você precisa me ajudar a casar com o seu pai!
E a menina naquele dia mesmo pediu, pediu e pediu pra que ele se casasse com aquela mulher que era tão legal, tão legal, que podia ser a mãe dela!
O pai riu das coisas que a menina falava. Mas, vou dizer a vocês: a partir daquele dia, ele começou a olhar para a vizinha diferente, bem diferente!
Tanto que começou a gostar.
Tanto que começou a namorar com ela.
Tanto que se casou com ela.
No dia do casamento, a mais feliz dos três era a menina que já sonhava com a vida maravilhosa que ela teria daquele dia em diante.
Pois no dia seguinte, ela deitou a cabeça no colo da madrasta (sim, porque agora a vizinha era a madrasta dela) e disse: "ô, mãezinha, é hoje que você vai me dar um presentinho?"
- Presente? Que presente, menina! Você só pensa nessas coisas. Aliás, quer saber: poder começar a limpar esse chão. e depois pode lavar a louça, e depois tire o pó dos móveis e depois lave a roupa e blá blá blá blá!!!!!!!!!!
Mas não foi só isso:
- E mais: a partir de hoje, você não brinca mais nem aqui, nem na rua, nem em lugar nenhum, pois isso é coisa de crianças preguiçosa!!!!!!!!!!!
Foi assim mesmo: desde aquele dia, a vida da menina foi a mais triste das mais tristes vidas...
Mas o pior ainda viria: o pai tinha de viajar e passaria três dias fora de casa.
A mulher já começou a pensar no que faria com a menina.
Quando o pai virou a esquina, a madrasta estava na janela. Olhou pro jardim e viu: uma figueira, a árvore preferia do pai da menina. Ela estava cheia de figos.
A madrasta pegou a menina pelo braço, levou até o quintal e disse:
- Menina! E vou sair agora e você vai passar o dia inteiro aqui espantando os passarinhos dessa árvore. Quando eu voltar, se houver um figo bicado... Aah! Menina! Você não sabe do que sou capaz!
A madrasta saiu e a menina ficou ali espantando os passarinhos.
Até que ela ouviu o som das crianças brincando na rua... e foi brincar também!
Correu, pulou, subiu, caiu, levantou, gritou, riu... o dia inteiro. Mas o dia passou.
Quando a noite chegou, a madrasta também veio.
E viu os figos da árvore todos bicados!
Cheia de raiva, começou a cavar, cavar, cavar.
Puxou a menina e levou-a até o buraco... e jogou-a lá dentro.
E tapou, tapou e tapou.
Ai, a sorte da menina é que o pai desistiu da viagem. Quando olhou pro jardim, chamou logo o jardineiro.
Ele começou a capinar, a capinar... até que ouviu uma vozinha fraquinha cantando aos pés da figueira.
"Jardineiro do meu pai
Não me corte os cabelos
Minha mãe me penteava
Minha madrasta me enterrou
Pelo figos da figueira
Que o passarinho bicou
Xô! Passarinho, da figueira do meu pai!
Xô! Passarinho da figueira do meu pai!"
O jardineiro reconheceu a voz da menina e chamou o pai. Quando ele ouviu o canto da menina, começou a cavar, a cavar... e tirou a menina lá de dentro, ainda viva!
E olhe só: quando ia levando a menina pra dentro de casa, eles viram quem tentava fugir: a madrasta!
Ah! O jardineiro correu atrás dela e a segurou. O pai, quando olhou pra ela, disse:
- Você nunca mais vai fazer mal pra ninguém!
E foi assim mesmo: a madrasta foi presa e nunca mais fez mal a ninguém. Nem pra adulto, nem pra criança.
E dizem qeu o pai e a filha viveram muito felizes. Dizem até que ele se casou de novo. Mas dessa vez, a mulher foi bem diferente: era uma rainha pra ele e uma fada pra menina."
Esse é um conto popular bem antigo. Pode ser encontrado em várias versões diferentes e com vários títulos diferentes também.
Como diz aquele ditado dos pontos que vão aumentado ou diminuindo, à medida que a gente conta as histórias, essa é a maneira que eu gosto de contar esta história: trazendo-a pra bem perto da gente, da nossa época, sem que ela perca nada da sua essência: a crueldade da madrasta, o sofrimento da menina, o engano do pai, continuam marcados, formando essa trama, que poderia realmente ter acontecido em qualquer lugar. Quem sabe, bem na nossa rua.
E mesmo que não, a história continua reverberando a sua verdade dentro da gente.


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